31/10/2009
Planejamento
História do boi do Ceará
***manifestação artística
Dança, representação.
Relato da Raquel
Um jogo de representações fascinante!
Um encanto de encontro. Fazia tempo que não ia. Fomos Raquel, Tadeu (cênicas), Dani e Andrea. Na reunião passada de quarta ligamos para a Thamires pedindo para ela avisar o Junior (que vende leite de sábado de manhã) para avisar a todas as crianças do lote que passaríamos as 9:15 de carro perto da linha do trem para buscá-las. Quando chegamos hoje, foi uma maravilha, elas estavam já subindo esperando a gente. Na verdade, o que aconteceu foi que a Thamires passou nas casas ontem ou antes para avisar e foi realmente uma boa comunicação que ajudou muito o nosso trabalho. O que me faz repensar muito em como é necessário o apoio e, melhor ainda, a participação da comunidade no projeto. Tudo flui muito mais!
Bom, com as crianças lá desde cedo, pudemos fazer todas as atividades planejadas, obvio, sempre com alterações do momento. Primeiramente fizemos jogos de corda: “o homem bateu em minha porta e eu abri...”. A Natalia fez com outra música, aquela que tem a contagem do alfabeto. Achamos interessante a questão de o alfabeto estar presente na brincadeira e lembrei muito da minha infância que também fazia isso.
Na mesma hora estava o grupo de alunos da PUC do professor Danilo (do IFCH). Achei muito estranho que tinha uma menina fazendo umas bexigas compridas com as crianças. Elas adoraram, mas por um lado eu senti aquela ação muito como um assistencialismo superficial. Qual a proposta pedagógica daquela ação? Porque fazer isso com as crianças? E pior é que depois de 10 minutos ela foi embora com as outras pessoas para visitar o acampamento. Temos que tomar cuidado para receber melhor essas pessoas. Talvez, pensando agora, fosse interessante que eles participassem um pouco da ciranda. Uma hora que eles ficaram nos observando, me senti no zoológico, mas na parte dos bichos.
Bom, depois da corda, alongamos (falamos sobre porque alongar), brincamos da corrida de quem chega mais devagar no final. A Elisandra tem muita dificuldade de jogos competitivos, ela ficou muito brava porque disse que a Natalia e a outra menina não saíram junto com todo mundo e queria jogar mais uma vez porque não era justo. Senti ela um tanto mimada e foi complicada a situação. A Natalia propôs uma outra brincadeira: uma roda, onde fica uma pessoa dentro (representando a mãe). Todos que estão na roda são os filhos. Daí rola um dialogo:
F- mãe, tem alguém te chamando. (A mãe sai da roda e volta)
M- cadê o chocolate quente?
F- O gato comeu
M- Cade o gato?
F- Ta no telhado.
M- O que eu faço para subir?
F- Pega uma escada.
M- E se eu cair?
F- Bem feito. (nessa hora, todas as crianças saem correndo e a mãe sai atrás de todo mundo para pegar alguém, quem foi pego é a nova mãe).
Quando a Natalia foi explicar, ela dizia que a mãe sai correndo para bater em alguém e eu enfatizava que era pra pegar. Depois que eu entendi que na verdade a Natalia estava representando, incorporando a brincadeira: na mímica, no jogo teatral, se o filho “falta com respeito com a mãe”, a mãe vai bater nele. A rede de significados é ampla e é complicado afirmar o que a Natalia quis dizer com isso. Mas essa é uma das interpretações possíveis. Nesse jogo, assim como na musica da viuvinha, pudemos compreender como o jogo representativo é interessante para as crianças e como elas se divertem nisso. No carro, depois, pensamos que temos muito que investigar mais essa área com as crianças.
Bom, depois fomos para a contação de histórias. (Algumas crianças queriam brincar mais). Contei a história do Saci (um livro verde que tem ilustração em xilogravura! Lindo!). Foi interessante que no meio da leitura, uma criança soltou um peido que nenhuma criança podia mais prestar atenção. Eu fiquei olhando a situação e percebi que era melhor mudar de lugar. Mas depois fiquei pensando que, talvez, se estivesse dentro de uma sala de aula, só falaria para as crianças prestarem atenção e desencanarem do cheiro. Acho que na maioria das vezes ignoramos as sensações das crianças em sala de aula. É terrível.
Aconteceu uma coisa muito interessante nesse processo da historia do Saci Pererê: as crianças perguntaram se ele era do bem ou do mal. A maioria respondeu que era do mal. Depois chegamos a conclusão que ninguém é só do bem ou só do mal. Perguntaram se ele era criança. No livro dizia que ele vivia 10 vezes 7 mais 7 anos. Uma menina logo respondeu: “77 anos”. Achei legal a conta rápida dela. (Esqueci o nome dela, estava de blusinha rosa e quase nunca aparece na ciranda, deve ter uns 11 a 13 anos).
Depois contamos a historia do Boi Bumbá com objetos. A Dani foi falando e eu manipulando os objetos (caixas, potes de requeijão etc.). Cometemos um erro grave de não ter levado mapa. É bom tê-los sempre a mão! Aos poucos eles iam se lembrando da historia dos outros bois e foi bem legal a narração.
Assim, começamos a nos organizar para fazer o auto! Primeiro separamos as personagens (Daniel- Zé patrão, Bastião – Junior, Catirina – Paola, Boi principal – Mateus, Mateus- Rick, Curandeira – Gabi, Raquel – ema, Jonas – Jaraguá, Natalia - burrinha ... - Alem disso, estavam presentes: Juju, Fauani, Jenifer, Gui, João Pedro, Elisandra, Irma da GAbi, Richard.), depois ensinamos a dobrar os chapéus de jornal e depois formamos duas filas para dançar o boi. Foi muito interessante! Aos poucos, conseguimos nos organizar! Assim, íamos mesclando a dança com a representação.
Os meninos mais velhos foram fantásticos: Daniel e Junior se revelaram! Eles faziam o sotaque perfeito do nordeste e entravam dentro do personagem, improvisavam! Era lindo! Algumas crianças ficaram muito tímidas (por exemplo o Rick), mas não comprometeu a atividade no sentido de não dar para efetuá-la. Foi extasiante o modo como se deu o processo. Havia um fluxo de interesse compartilhado na atividade que apesar de todas as nossas dificuldades, eu nunca vi uma atividade da ciranda que tivesse dado tão bem com as crianças. Os pequenos não participaram muito do teatro, mas depois pontuamos que eles fizeram mais a produção (os chapéus). E assim, pensamos que podemos muito agilizar essa separação entre maiores e menores e produzir um verdadeiro espetáculo! Hahaha.
No fim, fizemos uma finalização em roda e dei uma regra: quem estivesse com a fita vermelha poderia falar. A proposta era dizer o que tinha gostado ou não da atividade: a maioria disse que gostou do final (do teatro), o Mateus (o boi) disse que gostou de morrer ... Ninguém disse nada que não gostou. Eu e a Andrea enfatizamos que eles se bateram muito hoje, eles reconheceram que não é legal, mas não sabiam explicar por que. Temos, definitivamente, trabalhar melhor essa questão com eles. O Richard bate no Rick quando o Rick faz algo sem noção, mas é muito violento: fala com o Rick batendo...em contrapartida, vimos a mãe do Richard falando com ele (gritando) de uma maneira muito complicada...
Bom, no final deixamos os bois com eles e não foi uma briga feia. Decidimos que eles iam rodas pelas casas, mas teve um monte de gente que nem quis saber do boi (as meninas principalmente). Ao final, ficou um na casa do Rick, outro no Jonas, outro no Samuel e outro no Junior...
No meio da atividade, a Branca e o Ismael foram para Montemor com a Joice e mais alguém que levou eles para verem um lugar que talvez a Joice trabalhe cuidando de uma senhora. Senti que realmente o Ismael deu uma certa estrutura familiar para as crianças e para a Branca. Quando chegamos, ele estava andando de bicicleta com o Jonas e o filho parecia estar muito contente em ter essa companhia. Depois quando fomos chamar as crianças, o Jonas chamou o pai para ir conosco. Achei um gesto muito significativo, o pai parece estar mesmo dentro da vida dele.
Ao final, gostaria de relatar que fazia tempo que não ia no acampamento e que esse encontro me mostrou que muita coisa é possível. É bom ter essa sensação. Além disso, acho que devíamos investir na sutileza das observações e relatos!
Planejamento
História do boi do Ceará
***manifestação artística
Dança, representação.
Relato da Raquel
Um jogo de representações fascinante!
Um encanto de encontro. Fazia tempo que não ia. Fomos Raquel, Tadeu (cênicas), Dani e Andrea. Na reunião passada de quarta ligamos para a Thamires pedindo para ela avisar o Junior (que vende leite de sábado de manhã) para avisar a todas as crianças do lote que passaríamos as 9:15 de carro perto da linha do trem para buscá-las. Quando chegamos hoje, foi uma maravilha, elas estavam já subindo esperando a gente. Na verdade, o que aconteceu foi que a Thamires passou nas casas ontem ou antes para avisar e foi realmente uma boa comunicação que ajudou muito o nosso trabalho. O que me faz repensar muito em como é necessário o apoio e, melhor ainda, a participação da comunidade no projeto. Tudo flui muito mais!
Bom, com as crianças lá desde cedo, pudemos fazer todas as atividades planejadas, obvio, sempre com alterações do momento. Primeiramente fizemos jogos de corda: “o homem bateu em minha porta e eu abri...”. A Natalia fez com outra música, aquela que tem a contagem do alfabeto. Achamos interessante a questão de o alfabeto estar presente na brincadeira e lembrei muito da minha infância que também fazia isso.
Na mesma hora estava o grupo de alunos da PUC do professor Danilo (do IFCH). Achei muito estranho que tinha uma menina fazendo umas bexigas compridas com as crianças. Elas adoraram, mas por um lado eu senti aquela ação muito como um assistencialismo superficial. Qual a proposta pedagógica daquela ação? Porque fazer isso com as crianças? E pior é que depois de 10 minutos ela foi embora com as outras pessoas para visitar o acampamento. Temos que tomar cuidado para receber melhor essas pessoas. Talvez, pensando agora, fosse interessante que eles participassem um pouco da ciranda. Uma hora que eles ficaram nos observando, me senti no zoológico, mas na parte dos bichos.
Bom, depois da corda, alongamos (falamos sobre porque alongar), brincamos da corrida de quem chega mais devagar no final. A Elisandra tem muita dificuldade de jogos competitivos, ela ficou muito brava porque disse que a Natalia e a outra menina não saíram junto com todo mundo e queria jogar mais uma vez porque não era justo. Senti ela um tanto mimada e foi complicada a situação. A Natalia propôs uma outra brincadeira: uma roda, onde fica uma pessoa dentro (representando a mãe). Todos que estão na roda são os filhos. Daí rola um dialogo:
F- mãe, tem alguém te chamando. (A mãe sai da roda e volta)
M- cadê o chocolate quente?
F- O gato comeu
M- Cade o gato?
F- Ta no telhado.
M- O que eu faço para subir?
F- Pega uma escada.
M- E se eu cair?
F- Bem feito. (nessa hora, todas as crianças saem correndo e a mãe sai atrás de todo mundo para pegar alguém, quem foi pego é a nova mãe).
Quando a Natalia foi explicar, ela dizia que a mãe sai correndo para bater em alguém e eu enfatizava que era pra pegar. Depois que eu entendi que na verdade a Natalia estava representando, incorporando a brincadeira: na mímica, no jogo teatral, se o filho “falta com respeito com a mãe”, a mãe vai bater nele. A rede de significados é ampla e é complicado afirmar o que a Natalia quis dizer com isso. Mas essa é uma das interpretações possíveis. Nesse jogo, assim como na musica da viuvinha, pudemos compreender como o jogo representativo é interessante para as crianças e como elas se divertem nisso. No carro, depois, pensamos que temos muito que investigar mais essa área com as crianças.
Bom, depois fomos para a contação de histórias. (Algumas crianças queriam brincar mais). Contei a história do Saci (um livro verde que tem ilustração em xilogravura! Lindo!). Foi interessante que no meio da leitura, uma criança soltou um peido que nenhuma criança podia mais prestar atenção. Eu fiquei olhando a situação e percebi que era melhor mudar de lugar. Mas depois fiquei pensando que, talvez, se estivesse dentro de uma sala de aula, só falaria para as crianças prestarem atenção e desencanarem do cheiro. Acho que na maioria das vezes ignoramos as sensações das crianças em sala de aula. É terrível.
Aconteceu uma coisa muito interessante nesse processo da historia do Saci Pererê: as crianças perguntaram se ele era do bem ou do mal. A maioria respondeu que era do mal. Depois chegamos a conclusão que ninguém é só do bem ou só do mal. Perguntaram se ele era criança. No livro dizia que ele vivia 10 vezes 7 mais 7 anos. Uma menina logo respondeu: “77 anos”. Achei legal a conta rápida dela. (Esqueci o nome dela, estava de blusinha rosa e quase nunca aparece na ciranda, deve ter uns 11 a 13 anos).
Depois contamos a historia do Boi Bumbá com objetos. A Dani foi falando e eu manipulando os objetos (caixas, potes de requeijão etc.). Cometemos um erro grave de não ter levado mapa. É bom tê-los sempre a mão! Aos poucos eles iam se lembrando da historia dos outros bois e foi bem legal a narração.
Assim, começamos a nos organizar para fazer o auto! Primeiro separamos as personagens (Daniel- Zé patrão, Bastião – Junior, Catirina – Paola, Boi principal – Mateus, Mateus- Rick, Curandeira – Gabi, Raquel – ema, Jonas – Jaraguá, Natalia - burrinha ... - Alem disso, estavam presentes: Juju, Fauani, Jenifer, Gui, João Pedro, Elisandra, Irma da GAbi, Richard.), depois ensinamos a dobrar os chapéus de jornal e depois formamos duas filas para dançar o boi. Foi muito interessante! Aos poucos, conseguimos nos organizar! Assim, íamos mesclando a dança com a representação.
Os meninos mais velhos foram fantásticos: Daniel e Junior se revelaram! Eles faziam o sotaque perfeito do nordeste e entravam dentro do personagem, improvisavam! Era lindo! Algumas crianças ficaram muito tímidas (por exemplo o Rick), mas não comprometeu a atividade no sentido de não dar para efetuá-la. Foi extasiante o modo como se deu o processo. Havia um fluxo de interesse compartilhado na atividade que apesar de todas as nossas dificuldades, eu nunca vi uma atividade da ciranda que tivesse dado tão bem com as crianças. Os pequenos não participaram muito do teatro, mas depois pontuamos que eles fizeram mais a produção (os chapéus). E assim, pensamos que podemos muito agilizar essa separação entre maiores e menores e produzir um verdadeiro espetáculo! Hahaha.
No fim, fizemos uma finalização em roda e dei uma regra: quem estivesse com a fita vermelha poderia falar. A proposta era dizer o que tinha gostado ou não da atividade: a maioria disse que gostou do final (do teatro), o Mateus (o boi) disse que gostou de morrer ... Ninguém disse nada que não gostou. Eu e a Andrea enfatizamos que eles se bateram muito hoje, eles reconheceram que não é legal, mas não sabiam explicar por que. Temos, definitivamente, trabalhar melhor essa questão com eles. O Richard bate no Rick quando o Rick faz algo sem noção, mas é muito violento: fala com o Rick batendo...em contrapartida, vimos a mãe do Richard falando com ele (gritando) de uma maneira muito complicada...
Bom, no final deixamos os bois com eles e não foi uma briga feia. Decidimos que eles iam rodas pelas casas, mas teve um monte de gente que nem quis saber do boi (as meninas principalmente). Ao final, ficou um na casa do Rick, outro no Jonas, outro no Samuel e outro no Junior...
No meio da atividade, a Branca e o Ismael foram para Montemor com a Joice e mais alguém que levou eles para verem um lugar que talvez a Joice trabalhe cuidando de uma senhora. Senti que realmente o Ismael deu uma certa estrutura familiar para as crianças e para a Branca. Quando chegamos, ele estava andando de bicicleta com o Jonas e o filho parecia estar muito contente em ter essa companhia. Depois quando fomos chamar as crianças, o Jonas chamou o pai para ir conosco. Achei um gesto muito significativo, o pai parece estar mesmo dentro da vida dele.
Ao final, gostaria de relatar que fazia tempo que não ia no acampamento e que esse encontro me mostrou que muita coisa é possível. É bom ter essa sensação. Além disso, acho que devíamos investir na sutileza das observações e relatos!